segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ode à Tristeza

Eu canto esta alegria
(entristecida)
de tanto te lembrar
e ser saudade

E a minha voz é forte

timbrada de dias

e distâncias

com as palavras todas mastigadas

(E se tristeza tenho

que me reste

não me julgues parada

ou indecisa

Cristalizei meus olhos de chorarem

e o meu olhar é firme,

certeiro ao teu encontro)

Eu canto esta alegria
de segredar-me ao vento
e seguir viagem
em direcção de ti

leve

impensada

informe

e num fluir de aragem

ser transformada em ar

Pedaço que respiras.

E nos meus dedos mansos

-veludos que pisaram

teu corpo em movimento-

vou amarrar o tempo

as letras do teu nome

E depois morrer.

Eu canto esta alegria

de saber-te

Manuela Amaral

in Esta Coisa Quase Vida - 1993 Fora do Texto